Traição
Traição
é um fenómeno difícil de se mensurar mas parece que
as mulheres estão cada vez mais infiéis e que os homens
infiéis começam a se sentir culpados.
A independência feminina promoveu mudanças na mulher em muitos
aspectos da sociedade, especialmente no que se refere ao mercado de trabalho.
Essas mudanças se reflectiram também na fidelidade conjugal,
tanto masculina como feminina.
Actualmente
os casais são mais cúmplices, construindo e provendo o lar
em igual proporção. Ao trair, o homem sente destruir o vínculo
de lealdade com alguém que divide tudo com ele. E há ainda
a possibilidade de a mulher sair de casa e abandoná-lo se souber
do caso - o que era uma atitude improvável alguns anos atrás
- e a mudança na relação com os filhos. Parece que
ter uma aventura fora de casa significa uma vergonha para o homem. Agora
o homem que trai sente que faz algo errado, enquanto antes isso não
era nem colocado em questão.
Tédio
do casamento – As ultimas pesquisas revelam que a maioria
dos homens é infiel, mas divergem sobre o número de mulheres
que traem. O resultado é de que 47% das mulheres e 60% dos homens
são infiéis e alguns psiquiatras constatam que 67% dos homens
e 23% das mulheres já traíram o parceiro. Mensurar dados
sobre infidelidade é tarefa complicada. Não há como
verificar se quem responde às pesquisas está mesmo dizendo
a verdade, nem há como garantir que a presença do entrevistador
não influencia a resposta do entrevistado e, ainda, muitas vezes,
o questionário é respondido na frente do parceiro.
•homens
traem por razões ligadas à sexualidade. Mulheres, por motivos
ligados ao casamento e também vingança
•as traições
costumam ocorrer nos quatro primeiros anos de união
•a maioria
de homens e mulheres tem vontade de ter um caso. Eles não o fazem
por falta de oportunidade. Elas, por não querer que o marido lhes
faça o mesmo
•a maioria
dos casamentos não termina depois da traição
Estudiosos
classificam a infidelidade conjugal em três tipos básicos:
a traição como desejo de novidade para vencer o tédio
do casamento; a traição como afirmação da
feminilidade ou da masculinidade - é o caso dos traidores compulsivos
que precisam de nova conquista para descartá-la em seguida; e a
síndroma de Madame Bovary (personagem do romance de Flaubert sobre
a infidelidade feminina), em que a insatisfação afectiva
leva à busca de um amor romântico que não existe.
Em todos os casos, homens e mulheres encaram a traição de
maneira diferente. Nas pesquisas entre as respostas mais frequentes dos
homens estão: por se sentirem atraídos sexualmente e porque
as circunstâncias lhes foram favoráveis. Poucas têm
a ver com amor ou envolvimento afectivo. No caso das mulheres, os motivos
mais citados foram decepção, desamor e raiva do parceiro.
Outro dado curioso se refere à incidência das traições.
A maioria ocorre nos primeiros quatro anos de casamento. Para os homens,
o segundo foco acontece entre os 20 e 24 anos de união. Entre as
mulheres, entre o quinto e o nono ano de casamento.
Um dos percentuais
mais altos de respostas nas pesquisas diz respeito à vontade dos
entrevistados de ter um romance fora do casamento: cerca de 60% dos homens
e 55% das mulheres. As razões pelas quais ambos evitam o adultério
são curiosas. Elas não querem que o marido faça o
mesmo. Eles não querem confusão.
Trauma
da infidelidade - Por ser polémica até a raiz, a infidelidade
suscita uma série de mitos infundados. Um deles: o de que a maioria
das traições destrói os casamentos. De acordo com
as pesquisas, cerca de 30% dos traídos terminaram a relação.
O resultado revela que a maioria absoluta de homens e mulheres procura
esquecer o que passou. O maior obstáculo é, sem dúvida,
conseguir ultrapassar o choque inicial.
Outro folclore
em torno do adultério é que ter um caso pode reacender o
casamento. De facto, o que pode ocorrer é um dos parceiros (o traidor,
óbvio) se sentir "reaceso". Dificilmente quem foi traído
ficará animado com a notícia. É quase impossível
um dos parceiros ser condescendente com a traição. Infidelidade
é um dos poucos assuntos sobre o qual a civilização
ocidental é intolerante, por envolver mentira, decepção
e o rompimento de um pacto muito forte entre o casal. No entanto, é
possível superar o
trauma e, em muitos casos, até sair do problema com a relação
fortalecida. Na traição, o ideal de casamento desmorona.
Passa-se a enxergar o marido e ele a mulher como na vida real. Na avaliação
dos terapeutas, a melhor forma de tratar o assunto é tentar enxergar
exactamente as razões da infidelidade. Não adianta o infiel
declarar-se culpado ou tentar convencer o parceiro de que não sabia
onde estava com a cabeça. A atitude mais correcta é assumir
que estava, de facto, em busca de satisfação fora do relacionamento
e reconhecer que magoou o cônjuge. O traído, por sua vez,
aprenderá alguma coisa se entrar em contacto com sua ferida profunda,
com seu sentimento de indignação e se conseguir reavaliar
o modo como escolhe suas parcerias amorosas.
É
muito comum entre pessoas traídas assumir a responsabilidade pelo
fracasso da relação. Perguntar-se "onde eu errei?",
"por que eu o pressionei tanto?" Na infidelidade, não
existem culpados nem vítimas. Mesmo quem foi traído carrega
um fardo enorme. A terapia é muito importante para dividir muito
bem a responsabilidade de cada um na história. É impossível
dizer por que um dos parceiros trai. É outro aspecto a ser desmitificado:
o de que o adultério só atinge casais em crise. Não
é verdade. Há também casos de infidelidade em relações
muito bem sucedidas. É impossível dizer se foi por atracção
sexual, por vontade de correr riscos ou por paixão. No fundo, não
é nem porque o outro é mais bonito ou mais interessante.
Mas é que sempre representa uma novidade.
Evitar o
adultério parece tarefa impossível. O ser humano trai por
natureza mas é possível domar essa natureza".
Mitos sobre adultério
•"Ter
um caso pode reacender o casamento."
Não é verdade. Se o casamento já anda mal, pode ser
o empurrão que falta para acabar de vez. A traição
pode até reacender o ânimo de um dos parceiros (o traidor,
óbvio), mas pode destruir o do outro.
•"Trair
é normal."
Não é. Muitas pessoas acreditam que, pelo fato de se estar
vivendo mais, é melhor casar várias vezes. Contudo, o mais
importante é ter uma relação que garanta felicidade,
conforto e protecção. E um caso extraconjugal proporciona
exactamente o contrário.
•"Trair
é da natureza humana."
Há muitos estudos que tentam provar a tese de que mamíferos,
ovíparos e até insectos são infiéis por natureza.
Mas não existe comprovação científica.
•"Homens
traem mais do que as mulheres."
É uma das únicas verdades absolutas no que diz respeito
à infidelidade. Nos últimos tempos, no entanto, chama a
atenção o percentual de mulheres infiéis.
•"Só
casamentos em crise estão sujeitos ao adultério."
Não. Acontece também em relações muito bem
sucedidas. Parece que é quase impossível manter um relacionamento
perfeito o tempo todo, os casos costumam ocorrer em momentos piores.
•"Eu
tenho culpa por ter sido traído(a)."
Claro que não. O parceiro tem outros caminhos para resolver problemas
no casamento. Mas é importante prestar atenção em
seu comportamento e no da pessoa amada. Em que momento vocês permitiram
que o casamento mudasse de rumo?
Os
genes da traição - Nos últimos tempos, uma
série de explicações biológicas tem aparecido
para justificar a infidelidade. Um livro recém lançado nos
Estados Unidos defende a tese de que a traição, seja entre
humanos, pássaros e até pulgas, é regra. Na natureza,
a monogamia é rara. O Mito da Monogamia: Fidelidade e Infidelidade
em Animais e Humanos, escrito pelo zoólogo e psicólogo David
P. Barash e pela psiquiatra Judith Eve Lipton, diz que até mesmo
os cisnes são infiéis.
Outra tese
polémica é a do médico Stephen Emlen, da Universidade
Cornell. Emlen afirma que nove entre dez mamíferos são infiéis.
"A verdadeira monogamia é muito rara", diz. Segundo ele,
há dois tipos de monogamia: a genética e a social. No primeiro
caso, a fidelidade é uma excepção. Segundo Emlen,
apenas uma espécie de macaco é fiel. No caso da monogamia
social, o casal está junto com um objectivo definido: criar os
filhos. É uma decisão deliberada dos parceiros. Especialistas
acreditam que a fidelidade se mantém graças ao mito de que
espécies cujas proles foram criadas por pais casados vivem melhor.
Seria uma justificativa da monogamia humana.
O professor
Tim Spector, investigador do Hospital St. Thomas's em Londres, estudou
duplas de mulheres gémeas e afirma que se uma delas tivesse um
histórico de infidelidade, as chances de a irmã apresentar
o mesmo comportamento seriam de 55%, maior do que a média de mulheres
que traem seus parceiros que é de 23%. Ele também relata
que a infidelidade não é somente regulada pelos genes, mas
também é influenciada pelo comportamento social: como desejo
de aventura ou outras necessidades relacionadas com a personalidade.
Outro estudo
científico publicado pela revista britânica “Nature”,
afirma que alterando-se um único gene pode-se regular o comportamento
notoriamente promíscuo de roedores em companheiros fiéis
e monogâmicos.
O gene controla a produção da proteína receptor de
vasopressina, presente naturalmente em maior quantidade em um tipo semelhante
de roedor (Microtus ochrogaster), que é monogâmico. A proteína
regula comportamento social e a formação de pares. A concentração
maior é localizada em uma região frontal do cérebro
envolvida na sensação de recompensa e no desenvolvimento
de compulsões.
Não sabemos
porém se no ser humano também funciona assim, pois o comportamento
sexual e sentimental humano é moldado pela interacção
entre complexos factores ambientais e culturais com não apenas
um, mas possivelmente diversos genes.
Dicas
para reconstruir a relação
•Respostas
defensivas vão sempre parecer desculpas sem nexo. Seja claro e
objectivo.
•Fuja dos
questionamentos exaustivos. Simples questões como "onde"
"quando" e "quem" podem ser relevantes para aliviar
as pressões por repostas mais complexas como "por quê"
•Evite
dar detalhes sobre o caso até que o outro comece a digerir melhor
a história
•Corte
por inteiro o vínculo com a terceira pessoa. Não adianta
só abandonar o sexo. Discussões pessoais, cafés e
telefonemas devem ser eliminados. Se o caso é um colega de trabalho
o contacto deve ser estritamente profissional
•Qualquer
encontro, mesmo involuntário com o caso, deve ser relatado ao parceiro
Mariagrazia Marini
Referências:
Revista
Veja nº 1734, 16 Janeiro 2002
O
Globo, edição: 17 Junho 2004
BBC/Médicos
Consultores, 7 Junho 2004
El
Correo Digital, 8 Junho 2004
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