SAÚDE SEXUAL

 

A ciência mostra que a saúde física e psicológica depende da sexualidade embora as alegrias e os dissabores vividos intimamente são experiências pessoais e intransferíveis – impossíveis, aparentemente, de ser catalogadas.

Desde Sigmund Freud (1856-1939) a ciência tenta explicar as conexões entre a sexualidade e o bem-estar físico e mental. Quando o pai da psicanálise escreveu seu ensaio sobre ansiedade e neurose, em 1895, dando uma ênfase até então inédita à sexualidade, choveram críticas. Freud achou melhor rebatê-las em um outro artigo, no qual foi ainda mais enfático. Freud escreveu: "Muitas doenças mentais e as fobias, em especial, não ocorrem quando a pessoa leva uma vida sexual normal". Sobre a pedra fundamental das análises de Freud ergueu-se um monumental edifício de estudos da sexualidade e de seu impacto sobre outras dimensões vitais do ser humano. Os médicos investigam com crescente interesse como as carências sexuais podem produzir doenças físicas e psicológicas e, por outro lado, como certas moléstias afectam o desempenho e a satisfação sexual. As depressões, os males cardíacos e circulatórios e o diabetes são doenças com impacto directo sobre a sexualidade.

Na década de 90, a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu o sexo na lista dos parâmetros utilizados para definir a qualidade de vida de uma pessoa. Os outros são: capacidade de trabalhar, não depender de ninguém para as tarefas do dia-a-dia e manter um convívio familiar e social satisfatório. O sexo seguro, frequente e prazeroso, explicam os médicos, pode proteger o coração, evitar a insónia, aliviar o stress, fortalecer o sistema imunológico, combater a ansiedade, regular o humor, emagrecer e até atrasar um pouco o ritmo do envelhecimento.

Os prazeres e as frustrações da alcova repercutem em todas as esferas da vida de uma pessoa. Oito de cada dez brasileiros (homens e mulheres) vítimas de problemas sexuais declaram que suas aflições afectam o trabalho, o convívio com os filhos, as relações sociais, o lazer. Sem contar, obviamente, o desgaste do relacionamento com o parceiro. Os homens sentem-se menos homens. As mulheres, menos mulheres.

Com o aumento da expectativa de vida da população, nada mais natural que o sexo de boa qualidade passe a ser uma exigência de homens e mulheres mais maduros. Viver mais significa prolongar os encontros amorosos para além da fase áurea da sexualidade, que vai dos 20 aos 40 anos. Com o passar do tempo, porém, não é fácil manter a libido a mil. Segundo a pesquisa, para a maioria das mulheres entre 18 e 25 anos, a vida sexual mudou para melhor desde a primeira relação. Para quem tinha mais de 46 anos, a mudança foi para pior. Com a chegada da menopausa, há uma queda nos níveis dos hormónios sexuais, o que reduz o aporte de sangue e o tônus muscular da região genital. A vagina fica menos elástica, e a lubrificação do órgão torna-se mais difícil. Consequentemente, as respostas às carícias e ao próprio ato sexual já não são tão rápidas nem tão intensas quanto eram na juventude. Uma jovem de 20 anos demora, em média, vinte segundos para sair do patamar do desejo e chegar à excitação. Numa mulher com mais de 50 anos, esse processo leva até três minutos. Com os homens não é diferente. Um mesmo estímulo sexual que, na juventude, saía do cérebro e deixava o pénis erecto em apenas três segundos demora dois minutos para fazer efeito no homem de meia-idade. Com a redução do fluxo sanguíneo para o pénis e a flacidez dos músculos penianos, a erecção torna-se menos potente e o orgasmo, mais difícil. Pelo levantamento das pesquisas 66% dos brasileiros apresentam, em menor ou maior grau, dificuldade de erecção – e, quanto mais elevada a faixa etária, maiores são a prevalência e a severidade da disfunção.

Geralmente é possível recuperar o fôlego na cama com a adopção de hábitos mais saudáveis – a combinação de uma dieta equilibrada com a prática regular de exercícios físicos. Se não funcionar, a medicina dispõe de uma série de armas capazes de devolver o prazer perdido. Os grandes beneficiados pelas invenções da indústria farmacêutica são os homens. O marco no tratamento das disfunções sexuais masculinas foi o lançamento, em 1998, da primeira pílula contra disfunção eréctil – o Viagra. A ela se seguiram outras (Cialis, Levitra e Uprima, entre as mais conhecidas) que exorcizaram o fantasma da impotência da vida de milhões de homens

Das queixas sexuais masculinas, a dificuldade de ter ou manter a erecção é a mais prevalecente. Entre os homens mais jovens, especialmente dos 18 aos 25 anos, o grande tormento, porém, é a ejaculação precoce – aquela que ocorre menos de dois minutos depois do início do ato sexual. Se não tratada, pode levar à impotência. Suas principais causas são a ansiedade e a insegurança. Por isso, o tratamento-padrão envolve o uso de antidepressivos da família do Prozac com sessões de psicoterapia. Está previsto para chegar ao mercado, em 2006, o primeiro medicamento indicado especificamente para o tratamento da ejaculação precoce. Fabricado pelo laboratório Janssen-Cilag, o remédio dapoxetina é também um antidepressivo. A diferença é que, ainda não se sabe exatamente por que, seus efeitos sobre a ejaculação precoce são muito mais rápidos. Os convencionais demoram até dez dias para começar a fazer efeito. O dapoxetina promete levar, no máximo, quatro horas para chegar aos mesmos resultados.

A partir dos 40 anos, os homens experimentam uma queda na produção de testosterona, o hormónio da libido. É um processo natural. Deles, 20% terão uma queda acima do normal – o que pode comprometer a libido. Usualmente essa reposição é feita por injecção, comprimido ou adesivos transdérmicos.

Os remédios contra a disfunção sexual masculina não melhoraram apenas a vida dos homens com problemas na cama. Provocaram uma reviravolta também na vida de suas companheiras. As principais queixas das mulheres são falta de desejo e dificuldade de chegar ao orgasmo.

Até pouco tempo atrás, acreditava-se que os problemas sexuais femininos só poderiam ser resolvidos no divã. A sexualidade feminina é muito complexa, tanto que Freud a chamou de 'o continente obscuro'. Está mais relacionada a factores psicológicos, sociais e culturais do que a masculina, o que dificulta a criação de medicamentos capazes de dar conta de tantas variantes. Nos últimos cinco anos, contudo, pesquisas deixaram claro que muitas aflições delas são de ordem orgânica, como a baixa na produção dos hormónios femininos, sobretudo entre as mulheres na pós-menopausa. Nesses casos, pode-se recorrer à terapia de reposição hormonal. Uma das frentes mais promissoras para aumentar a libido feminina é o uso de doses extras do hormónio testosterona. Para que essa terapia seja aprovada, os especialistas recomendam mais estudos, pois temem que o uso prolongado do medicamento possa aumentar os riscos de enfarte e derrame.

A medicina avançou muito em relação ao tratamento das disfunções sexuais masculinas e femininas. Mas é essencial ter em mente que pílulas e comprimidos pouco ajudam se não houver cumplicidade entre o casal. Não há remédio que resolva sozinho um problema de relacionamento. A intimidade entre um homem e uma mulher é um dos factores que mais contam para o sexo bom– aquele sexo que dá vontade de fazer mais depois.


ASSEXUALIDADE


Nos Estados Unidos e na Inglaterra há um movimento baptizado de "A-pride" – ou "orgulho assexuado" cuja prioridade é o não fazer sexo.

Um estudo publicado em outubro do ano passado na revista inglesa New Scientist aponta que 1% das pessoas sexualmente activas declarou não ter vontade ou não gostar de sexo. Há casos em que a inapetência sexual se explica por problemas físicos ou psicológicos. Existem aquelas pessoas, no entanto, que não apresentam nenhum tipo de distúrbio catalogado pelos médicos. Uma hipótese para explicar esse tipo de comportamento assexuado é que a chave que activa o centro cerebral da libido por alguma razão, provavelmente genética, não chega a ser ligada.

O modo como a sexualidade foi tratada ao longo da história variou muito. Nos conventos da Idade Média, as freiras tinham o costume de se privar do banho só para que não tivessem um contacto mais íntimo com o próprio corpo. A década de 60 foi marcada pela exaltação ao amor livre. Nos Estados Unidos de hoje, é cada vez maior o número de jovens que fazem questão de preservar a virgindade até o casamento. O movimento "A-pride" é radicalmente único. O desejo sexual é um imperativo biológico. Não ter vontade de fazer sexo é considerado completamente antinatural.


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