Mentir

Paula Rego

A mentira revela que algo na pessoa não está bem. Essa atitude está relacionada à baixa autoestima ou ao ímpeto de tirar vantagem. Por trás da mentira pode haver um chamado, uma defesa, um sintoma ou uma compulsão.

A criança mente, de modo geral, para fugir de um castigo, porque se sente injustiçada, por achar que estão a exigir algo além da sua capacidade ou, pelo contrário, por estar querendo algo que, a seu ver, não merece ou simula situações inverídicas por estar em busca de afirmação por meio de uma falsa capacidade.

A orientação da família e da escola são fundamentais nesses casos. O importante, é cultivar um clima de confiança, amor e respeito que dê espaço à verdade, mesmo quando ela for desagradável.

A família e a escola devem corrigir o mentiroso. Pode ser com uma conversa reservada, levando o mentiroso a admitir a inverdade. Ao mesmo tempo que a criança deve ser incentivada a assumir a responsabilidade por suas atitudes, o seu trabalho e os seus potenciais devem ser valorizados para que ela se afirme de maneira saudável.

O mentiroso compulsivo, que reinventa os acontecimentos ou aqueles que adulteram dados, suprimem informações ou colocam em risco a integridade das pessoas devem ser tratados por profissional especializado. Muitas vezes, nesses casos, ao hábito da mentira se aliam outros traços, como a frieza, o desrespeito e a agressividade.

Os mentirosos convictos estão treinados e transformam a mentira em verdade. É fácil notar quando uma pessoa honesta mente. Já aquela com mau carácter não. O mentiroso compulsivo geralmente é muito inteligente. Tem problemas de autoestima e sentimento de inferioridade. Tem falta de autoconfiança e ao enganar as pessoas sente-se mais forte.

Mentira Compulsiva

A prática frequente de viver uma situação imaginária pode ser o resultado de uma profunda insegurança emocional, além de traumas de infância. A atitude funciona como um mecanismo de autodefesa para as pessoas que apresentam um quadro de carência acentuada.

Crianças vítimas de uma educação julgadora, imposições, disciplinas rígidas e que por vezes vivem dominadas com autoritarismo, são fortes candidatas à doença.

A pessoa que carrega o vício de mentir pode não conseguir se controlar, tornando-se semelhante a quem tem o vício do jogo, ou é dependente de drogas, ou álcool.

O vício da mentira é uma dependência e pode ser tratada em psicoterapia, quando o mentiroso assume que mente e está motivado para a cura.

O problema é quando o mentiroso vive em função das suas inverdades, ele sofre para evitar que a mentira seja descoberta, cria situações e outras histórias para sustentar, torna-se vigilante contínuo de si mesmo e passa a viver num estado permanente de stress, que a longo prazo pode causar doenças. Num adulto a mentira pode ser uma forma de autoengano e assim diminuir a sua dor.

Uma coisa é certa: a verdade é a base da sanidade mental.

"O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente".

Fernando Pessoa

 

 

 


Desenvolvido por INTERACTIVE.com - info@interactive.com
info@psico-online.net
© 2008 Todos os direitos reservados