Cleptomania
A palavra cleptomania tem a sua raiz no grego kléptes e significa literalmente “ mania de roubar”. O termo foi criado há mais de dois séculos para descrever o impulso de roubar objectos desnecessários ou de pequeno valor. Jean Étienne Esquirol, psiquiatra francês, discípulo de Philippe Pinel, notou, em 1838, que o indivíduo frequentemente se esforça para evitar este comportamento, mas por sua natureza, isto é irresistível. Ele escreveu: "o controle voluntário é profundamente comprometido: o paciente é constrangido a executar actos que não são ditados nem por sua razão, nem por suas emoções, actos que sua consciência desaprova, mas que ele não tem intenção.
Roubar é um dos crimes mais inaceitáveis socialmente. Há mesmo países em que o furto é punido com penas que vão desde o açoitamento até a morte em casos mais graves.
Há cleptomaníacos famosos que furtam sem necessidade como por ex. o caso da actriz americana Winona Ryder de 36 anos, que em 2006 roubou roupas na loja Saks na Fifth Avenue, do rabino brasileiro Henry Sobel, que roubou gravatas, do estilista brasileiro Ronaldo Ésper que roubou vasos no cemitério e da personagem Haydée da novela "América", (interpretada por Christiane Torloni), que sofria de cleptomania e que sensibilizou a população e motivou pessoas que sofriam desse problema a procurar ajuda.
A cleptomania tem sido mencionada na literatura médica e legal durante séculos.
O psiquiatra suíço Andre Matthey foi o primeiro a utilizar o termo klopemanie para descrever os ladrões que roubavam impulsivamente itens desnecessários devido à insanidade. Mais tarde, os médicos franceses Jean Etienne Esquirol e C.C. Marc alteraram a palavra para kleptomanie, para descrever o comportamento caracterizado por impulsos irresistíveis e involuntários. A pessoa com kleptomanie era então "forçada a roubar" devido a uma doença mental, não devido à falta de consciência moral. Devido à percepção de que tal comportamento somente afectava mulheres, as explicações ao final do século XIX se referiam a doenças uterinas ou à tensão pré-menstrual como possíveis causas da cleptomania. No princípio do século XX, a ideia de que o sistema reprodutivo feminino era a causa desse comportamento foi descartada juntamente com praticamente todo o interesse clínico por esse transtorno. O status médico pouco claro da cleptomania reflectiu-se novamente no Manual de Diagnóstico e Estatística. O primeiro Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM-I 1962) incluiu a cleptomania mais como um termo suplementar do que como um diagnóstico formal, mas no DSM-II (1968) a cleptomania foi totalmente omitida. Foi reintroduzida mais adiante no DSM-III (1980) como um transtorno de controle dos impulsos sem outra especificação, como permanece no DSM-IV-TR (2000) No entanto, somente nos últimos 15 anos houve um conjunto de trabalhos científicos para confirmar o status da cleptomania como um legítimo transtorno psiquiátrico.
Cleptomania é uma doença psiquiátrica, é um transtorno de controlo dos impulsos.
A característica principal é que o cleptomaníaco sente um impulso incontrolável de furtar e por mais que tente não consegue resistir. Sente uma tensão crescente enquanto não realiza o desejo de se apropriar de um objecto. É como uma ideia fixa, uma espécie de obsessão.
Só passa a sentir um alívio e uma satisfação no momento do acto.
Após o acto sente vergonha e culpa. Não sabe porque, não consegue entender porque fez e nem porque não consegue evitar.
A cleptomania tem início na adolescência ou na idade adulta, raramente na infância. Os dados que temos é de mulheres por volta dos 35 anos e de homens por volta dos 50 anos.
Há muito poucos estudos devido a ser uma doença que é tratada com preconceito e ainda há muito poucas pessoas a procurar ajuda.
Os indivíduos afectados frequentemente têm outros distúrbios mentais, tais como distúrbio bipolar, anorexia nervosa, bulimia nervosa, ou distúrbio da ansiedade. Adultos com cleptomania roubam porque isto oferece alívio ou conforto emocional. Poucas pessoas procuram tratamento até que são pegas roubando.
Diferencia-se de um roubo comum por não haver premeditação, não é planeado nem há grandes elucubrações antes de realizá-lo e é um acto solitário e é cometido somente pela pessoa sem participação de outras.
Os objectos furtados são objectos comuns, geralmente de pouco valor monetário, que nem são necessários à pessoa e que os poderia facilmente comprar. São objectos simples com canetas, batons, perfumes, etc.
Após o furto a pessoa normalmente, acumula os objectos, ou descarta, ou doa, ou devolve.
A Cleptomania é uma condição rara, só nos últimos 15 anos que é reconhecida como doença, que parece ocorrer em menos de 5% de pessoas que cometem furtos em lojas.
Normalmente a pessoa que sofre dessa doença só recorre a ajuda quando é pega roubando. Muitas vezes tem consciência do seu problema, outras não, acredita ser normal.
A cleptomania costuma ter como ‘pano de fundo’ a depressão e pode estar associada a outros transtornos como os de humor, alimentares, de consumo de substâncias e de ansiedade.
Normalmente o perfil de um cleptomaníaco é de uma pessoa muito carente de afecto e atenção, processo que pode ter início na infância.
Devido a isso os pais devem estar atentos já na fase pré-escolar aos pertences dos filhos, pois quando a criança se sente carente por algum motivo, pode ‘compensar’ na tentativa de repor o amor que julga consciente ou inconscientemente não estar recebendo.
Nessa hora é fundamental conversar com o filho, explicar a gravidade e as consequências da atitude do furto e, principalmente, avaliar se pode estar havendo uma falta de amor e atenção na relação.
Quando um cleptomaníaco rouba um objecto ele está na verdade tentando roubar o afecto que está inserido naquele objecto, é como se o amor que o proprietário tem pelo bem pudesse ser transferido conjuntamente com o mesmo, assim, na hora do furto, além do objecto viria o afecto.
As crianças precisam de atenção, carinho, amor, compreensão; sem isso, elas, que ainda estão formando seus sentimentos, podem desviar para qualquer compulsão, entre elas a cleptomania.
Uma das hipóteses da causa é uma carência de amor, afecto, carinho ou atenção na infância.
A pessoa tenta encontrar nos objectos a efectividade que faltou na infância. Seria uma compensação. Mas isso não é uma regra, é sempre preciso investigar o indivíduo.
Os pais devem ter cuidado pois a falta de tempo, o pouco contacto com a criança, pode desencadear este processo sem que se perceba.
Quando cuidadosamente diagnosticada, a cleptomania pode ser tratada com sucesso, mas dificilmente eliminada.
Medicamentos anti-depressivos podem funcionar bem, mas, mesmo assim, ainda é um tratamento difícil, pois depende muito da boa vontade do paciente já que, muitas vezes, ele não se percebe doente e, portanto, não deseja melhorar.
O melhor a fazer é tratar o paciente com terapia e realizar análise contínua já que o desaparecimento total e definitivo é difícil. Ao menor sinal, os pais devem procurar profissional capacitado para tentar parar a evolução da cleptomania.
O trabalho realizado na psicoterapia é buscar o desenvolvimento do autocontrole da pessoa; devemos ter um diálogo aberto com o paciente e jamais culpá-lo pelo seu acto. É importante fazê-lo entender o que a enfermidade causa para si e para a sociedade, que envolve família e amigos. Na terapia vamos á origem do sintoma e a partir daí o paciente será capaz de mudar seu comportamento conforme se sinta mais seguro e capaz.
A psicoterapia pretende ajudar o cliente a compreender e a agir de uma forma mais autêntica e responsável.