VIVER
EM RELAÇÃO
Estar
junto na relação sentimental frequentemente extingue
a expressão do talento individual.
Talento
no sentido de “arte de viver”, entendida como amor à
vida, as pequenas e grandes paixões, a capacidade de se apreciar
os prazeres, o gosto pela vida social, o entusiasmo, a iniciativa diante
de projectos e dos problemas do dia a dia. E mais ainda talento entendido
como uma qualidade específica da própria natureza, um
dom, uma habilidade especial, fora do comum, fora da norma, como tocar
um instrumento, compor, escrever, pintar, cantar, o que exige expressar-se
e afirmar-se. Talento como competência ou mesmo como carisma.
Em psicologia, talento pode ser o uso apropriado de uma faísca
de loucura. Cada indivíduo possui características potencialmente
criativas que ao serem utilizadas podem transformar-se em cargas destrutivas,
extinguir-se ou desenvolver-se constituindo de tal maneira a centelha
que gera o talento.
Muitas
pessoas após a conquista do parceiro acomodam-se, relaxam, deixam-se
levar na presença do outro e apagam as expressões vitais.
Vivem a relação como um espaço para deixar-se levar,
sem perceber o “efeito areia movediça” desta atitude.
Problemas
1
Casais: um narcisista –egocentrico e outro dependente-adorador.
2 Grande medo de perder, insegurança em si próprio.
3 Inveja e competição não declarada
entre o casal.
4 Modelo de família feliz, perfeita, moderna
ou excêntrica.
5 Dificuldade em legitimar as necessidades e as características
próprias.
6 Escolha recíproca baseada unicamente em afinidades
mentais-culturais.
Sintomas
1
Perda do entusiasmo.
2 Diminuição do sorriso e de risadas.
3 Sensação de sem sentido.
4 Cansaço leve mas constante.
5 Momentos de amargura, melancolia ou leve depressão.
6 Tendência a usar a ironia ou sarcasmo.
Check
Up
• Entusiasmo: sente que tem o mesmo entusiasmo
espontâneo em fazer as coisas que sempre gostou fazer?
•
Curiosidade: na rotina diária permaneceu um sentido
misterioso?
•
Iniciativa: sente vontade de organizar encontros e
eventos como antes?
•
Olhar para o futuro: consegue projectar-se no tempo
e imaginar-se em situações de felicidade?
•
Prazeres individuais: sobrou espaço para momentos
ou actividades que estavam sempre presentes na sua vida?
•
Transformação: percebe-se dinâmico
e em transformação?
Caso
tenha respondido “não” ao menos
a 3 das perguntas anteriores, existe algo para ser
revisto em si e na sua relação.
1
Foque no que lhe falta e o que falta na relação.
2 Comunique o seu mal-estar sem agressividade, em um
momento sereno e tranquilo.
3 Procure cumplicidade com o parceiro, perguntando-lhe
se ele também sente falta de alguma coisa.
4 Decidam juntos, se possível, as transformações
a fazer.
Quando
o casal não limita os recursos e as capacidades individuais mas
as estimula, significa que é um casal saudável, onde o
amor vence à dependência.
Modelos
Redutivos
A
“família feliz” ou perfeita
para a qual os parceiros sacrificam a arte de viver, seja individual
seja de casal está destinada ao fracasso.
Ao fazer-se coisas somente de família feliz pode levar a uma
grande tristeza. Não por serem coisas erradas mas por não
serem “sentidas”.
O
casal se reduz ao processo inconsciente que o psicólogo Carl
Jung descreveu como “mínimo denominador comum”:onde
faz-se somente coisas possíveis de se fazer em dupla, ou que
se pense que o parceiro goste. Uma tentativa de lealdade que em breve
não satisfaz, nem estimula nenhum dos dois e que pelo contrário
tolhe as singularidades individuais de cada um que foram a base do namoro
recíproco.
Para
transformar uma derrota em uma vitória há necessidade
de coragem ou seja uma acção de coração:
a coragem de romper um equilíbrio estático e fictício,
que se quebrará de qualquer maneira mais cedo ou mais tarde,
em nome do amor à vida.
Se o amor do casal for real se manterá intacto mais forte e mais
erótico.
Excesso de fusão e transparência
na relação
O segredo de muitas uniões felizes está em manter um equilíbrio
saudável, que significa estar na relação sem perder-se
nela. Isto é, não agir como se o parceiro estivesse ausente
e nem antepor ou impor as próprias necessidades às do
parceiro, mas sim perceber-se como seres “distintos” e “únicos”
e considerar o parceiro como um companheiro de viagem. Excesso de fusão
e transparência podem estragar a relação.
As
relações simbióticas que se fundam
no falso mito fusão total, baseiam a relação na
semelhança e partilha total. Esses casais espelham-se no parceiro
sem sombras e nem segredos, mas desta forma destroem o eros, que se
alimenta de mistério e pode levar à renúncia de
alguns aspectos da própria interioridade.
O segredo para uma vida de relação serena é conseguir
estar num equilíbrio na relação nem totalmente
complementar, nem totalmente simétrica.
Os
casais simétricos estão muito próximos
e são muito semelhantes. São especulares e cada um vê
o outro como reflexo idealizado de si próprio. Isso leva, muitas
vezes, a que se renuncie a aspectos importantes do próprio carácter
na troca da ilusão da pertença e da recíproca harmonia.
Os
casais complementares também enfrentam dificuldades,
pois nessas relações, mesmo valorizando-se a autonomia
e mesmo mantendo-se as diferenças, há o risco que a rígida
complementaridade exclua da relação o confronto-encontro,
aspecto importantíssimo para o crescimento.
Para
alcançar o equilíbrio é fundamental perceber os
limites: onde “termina” o “eu” (com
as suas necessidades, valores, gostos, fraquezas) e onde “começa”
o “outro”. Se conseguirmos ficar bem com nós próprios
e não projectar no parceiro todas as nossas expectativas e todos
os nossos desejos, aprenderemos a amá-lo por aquilo que
ele realmente é.
Na
intimidade iniciaremos a pensar mais em nós
próprios, ao nosso próprio prazer e ao deixar fluir as
nossas “egoísticas” sensações de prazer
estaremos a dar prazer também ao outro.
Para
chegar a um tipo de relação equilibrada e feliz há
necessidade de uma certa igualdade em autonomia e maturidade. Se um
dos dois é ciumento e inseguro será difícil criar
uma atmosfera de respeito que permita dar amor desinteressado e ao mesmo
tempo reconhecer as particularidades e peculiaridades do outro, que
o tornam um ser “único” e “especial”.
Nos
casais onde se cultiva o “egoísmo saudável”
respira-se tranquilidade e harmonia.
Para
isso é essencial haver diálogo, mesmo
em forma crítica, confronto, auto-realização
e sobretudo a consciência de que o casal não é um
refúgio, mas sim uma ponte em direcção
ao mundo.
Mariagrazia
Marini
Psicóloga clínica Psicoterapeuta