Depressão Pós-parto

 

Segundo estudos científicos as mulheres têm uma probabilidade duas vezes maior de terem depressão principalmente durante a vida reprodutiva e nos períodos de oscilações hormonais como o pré-menstrual, o pós-parto e a perimenopausa - período ao redor da menopausa, caracterizado pelas oscilações dos níveis hormonais e sintomas físicos e psíquicos como ondas de calor, insónia, tristeza e irritabilidade.

A depressão pós-parto (DPP) é um quadro clínico que pode surgir nas mulheres na fase puerperal, normalmente nas quatro semanas após o parto e se caracteriza pela presença de um conjunto de sintomas que prejudicam a relação mãe-bebé.

Atinge entre 10 a 20 % das mulheres quando iniciam a relação com os seus filhos recém-nascidos, podendo começar na primeira semana após o parto e durar até 2 anos e apresentam choro, irritabilidade, cansaço e abatimento.

Dentre os sintomas mais comuns destacam-se: humor depressivo com profunda tristeza, um sentimento de vazio, ausência de prazer nas actividades diárias, fadiga, instabilidade emocional e irritabilidade, alterações da concentração e do pensamento, sentimentos e ideias suicidas.

Dentre os eventuais transtornos emocionais do pós-parto podem ser enfatizados: melancolia da maternidade (baby blues), depressão pós parto e psicose puerperal.

A melancolia da maternidade (baby blues), aparece em algumas mulheres, em torno do terceiro dia após o parto e se caracteriza por um estado de fragilidade e hiperemotividade. O choro e a tristeza são acompanhados por sentimentos de falta de confiança e incapacidade para cuidar do bebé. Corresponde a uma etapa de reconhecimento mútuo entre a mãe e o bebé. É o tempo necessário para a mãe compreender que o bebé é um ser separado dela e marca o fim da gravidez psíquica.

A depressão pós-parto ocorre após umas duas semanas quando os sentimentos depressivos persistem. É uma manifestação psicopatológica importante que incide em 10 a 15% das mulheres na fase puerperal e desencadeia um quadro depressivo durante os três primeiros meses após o parto e, geralmente, manifestam-se sentimentos de incapacidade de cuidar do filho e dificuldades para enfrentar a nova configuração sociofamiliar. A sintomatologia típica inclui: sentimentos de culpa, transtornos do sono, flutuações de humor com grande tendência a tristeza e ausência de sintomas psicóticos.

A psicose puerperal é uma síndrome com características de depressão, delírios e pensamentos da mãe sobre ferir o bebé ou a si mesma. Nos casos mais graves ocorrem inclusive fantasias homicidas em relação à criança, as quais, em situação extrema, podem chegar ao infanticídio.

A psicose puerperal incide em 0,1% a 0,2% das mulheres na fase puerperal. Assemelha-se à depressão pós parto, porém faz com que a mulher desenvolva uma certa tendência à agressividade, principalmente em relação à criança. A mãe pode manter delírios de perseguição, medo excessivo de magoar o bebé e sentimentos de estar a enlouquecer. Surge normalmente no primeiro período pós-parto de uma mulher, com duração variável de semanas a meses. A mulher sofre confusão mental, alucinações e mudanças rápidas de humor, passando da euforia para a depressão, podendo chegar a ser bastante agressiva com o filho e cogitar a possibilidade de infanticídio, ou seja, de matar ou facilitar a morte do próprio filho recém-nascido.

Enquanto a depressão pós-parto gera uma sensação de desleixo e apatia, levando a mãe a não ter vontade de cuidar de si e muito menos da criança, a psicose puerperal mantém efeitos que podem se tornar gravíssimos, caso não seja diagnosticada e tratada precocemente.

A mãe portadora deste distúrbio mantém um estado de delírio permanente. Os cuidados com a criança devem ser feitos por alguém da família, que possa estar presente. O marido deve ter atenção redobrada à esposa e estar sempre atento.

A presença de conflitos emocionais está associada a factores fisiológicos e emocionais e à situações de vida da mulher, como stress , dificuldades entre o casal, pouco suporte familiar , gravidez indesejada, etc.

Do ponto de vista psicodinâmico, o nascimento da criança representa o rompimento da relação simbiótica entre o bebé e a mãe. Este processo de separação pode desencadear na mãe vivências depressivas e psicóticas, reativadas por conflitos e lutos mal elaborados da infância. Nesse momento a mãe precisa desenvolver um vínculo afetivo, que lhe permitirá identificar-se com a criança, colocando-se no lugar dela e imaginando as necessidades da criança. O parto envolve a separação de dois organismos que estavam vivendo juntos em uma relação simbiótica de total dependência e permanente contato íntimo.

Ao nascer, a criança encarrega-se de uma variedade de funções fisiológicas que até então eram cumpridas pela mãe, como a respiração, a alimentação e outras. A mãe, que se adaptara ao estado de gravidez e incorporara o feto no seu esquema corporal, deverá passar por um novo processo de ajustamento, retornando a situação de não-gravidez.

No momento do parto há na mulher um sentimento de perda e de esvaziamento de partes importantes de si mesma e medo do desconhecido. Já a etapa do puerpério é caracterizada pela dualidade entre a situação do perdido, gravidez, e do adquirido, o bebé.

O conflito edipiano materno é ativado com o nascimento do bebé. Neste sentido, a maternidade é compreendida como um resgate e conquista da identidade feminina, sendo o bebé considerado um representante do falo paterno. Quando a mãe dá à luz uma criança do sexo feminino, revive sua história em relação à própria mãe de forma mais intensa, ocorrendo sentimentos ambivalentes, resultantes das dificuldades da elaboração da própria identidade feminina materna.

A Perspectiva psicanalítica sugere que após o parto a mulher tem de realizar o luto de uma série de experiências presentes, nomeadamente o luto do filho imaginário, ideal (expectativas) e experiências passadas, como luto de anteriores experiências de separação com a mãe, ela identifica-se com o bebé e revive através dele a relação com a mãe.

Na psicose e na depressão pós-parto a identidade materna é difusa e enfraquecida, devido a dificuldades e conflitos vividos em sua experiência anterior com a própria mãe.

A DPP é um sinal de que a mãe não está a realizar convenientemente o trabalho psicológico do pós parto, que consiste em aceitar que o seu filho não é tão especial como imaginou, tarefa que pode ser dificultada quando as expectativas da mãe são quebradas (ex.: sexo, temperamento do bebé, aparência física).

Principais fatores de risco:

Pessoas com histórico pessoal ou familiar de transtorno bipolar do humor.
Episódio prévio de psicose (por exemplo em uma gestação anterior).
Ser primípara (primeiro filho).
Pessoas com histórico pessoal ou familiar de transtorno bipolar do humor.
Episódio prévio de psicose (por exemplo em uma gestação anterior).

Tratamento: é diferenciado e individualizado de acordo com a gravidade clínica.
A pessoa que sofre com essa depressão, geralmente está indecisa, pelo que alguém da família tem que tomar decisões, inclusive para começar o tratamento.

A primeira opção deverá ser a prevenção. É preciso oferecer educação, psicoterapia de apoio e até medicação quando bem indicada e orientada. Qualquer tratamento deve envolver equipe multidisciplinar, com o obstetra, o psiquiatra e o psicólogo. O enfoque é sempre biopsicossocial, como em todos os transtornos mentais. Pais e familiares devem também ser orientados. Nunca devemos nos esquecer dos aspectos da vida do casal e das próprias expectativas de mudanças da vida social que podem intimidar ou assustar algumas futuras mães.

Resumindo:

Antidepressivos. Muitos deles podem ser dados durante a gravidez e a amamentação.

Psicoterapia. A Depressão afeta a pessoa como um todo. Fatores da vida da mulher podem provocar, piorar ou perpetuar a depressão. A culpa por estar deprimida, por sentir-se incapaz de cuidar do bebé, por não conseguir sentir-se feliz podem ser tratadas numa psicoterapia, enquanto que a medicação tratará o metabolismo cerebral.

Tempo para começar a melhorar: quase todos os Antidepressivos precisam de 2 a 6 semanas a agir. Não desista do tratamento se não melhorar nos primeiros dias.

Yoga, meditação, relaxamento, exercício físico, ajudam.

Diminuir consumo de álcool e cafeína (café, chá preto, refrigerantes).

Conclusão: A depressão pós parto deve ser tratada, e, mais do que isso, exige apoio integral da família, especialmente do marido que deve dar atenção redobrada e ter uma dose grande de compreensão. Embora tenha um bom prognóstico, não deve ser descuidada pois poderá agravar-se e prejudicar a vida da mulher, do bebé e de sua família.

 

 

 

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