Crianças e limites

 

O mundo passou por um período de transformação comportamental que visa diminuir a repressão e aumentar a liberdade individual. Esse pensamento também influenciou o comportamento da família e os pais passaram a achar que deveriam deixar os filhos fazerem o que quiserem e começaram a sentir dificuldade em impor limites.

Educar não é tarefa fácil para os pais que podem sentir muita dificuldade em contrariar os próprios filhos e muitos procuram se abster no sentido de evitar um sofrimento.
Negar algo aos filhos é sempre muito difícil, mesmo quando é preciso, embora impor limites na medida certa deixe as crianças mais auto confiantes e felizes.

Além de não saberem usar o “não”, os pais sentem-se culpados e inseguros ao serem mais enérgicos.

Dizer “não” aos filhos e exercer a autoridade, significa para os pais enfrentar a própria história pessoal e os próprios fantasmas e reviver a maneira como foram educados na infância. Pais que tiveram uma educação repressiva, sente-se mais facilmente angustiados diante da necessidade de se imporem. Sentem-se tiranos assim como sentiram os próprios pais. Quem em criança sempre ouviu a palavra “não”, terá mais dificuldades em gerir uma recusa. A tendência será ceder ou ao contrário ser demasiadamente rígido e inflexível e reproduzir a vivência do passado.

Muitos pais temem gerar alguma espécie de trauma nos filhos, embora o que pode traumatizar é a falta de afeto e de atenção. Educação e limites são imprescindíveis na formação psicológica de uma criança e ela própria poderá interpretar a falta de limites como falta de afeto e de atenção dos pais.

Dizer “não”, traz desconforto, enquanto o sim, dá segurança, gera admiração e responde a uma necessidade ancestral do ser humano:” ser amado”.

Quando os pais estão em dúvida sobre como agir, precisam pensar que não há uma regra universal, mas é preciso confiar na própria escala de valores familiares e seguir o bom senso.

As crianças são pequenos exploradores do mundo e as recusas são como bússolas que lhe permitem entender quais são os caminhos mais adequados na direção do crescimento. Os adultos devem assumir a responsabilidade de guiar os filhos e ajudá-los nesse percurso de conhecimento do mundo.
Para tal, é preciso coerência nos gestos e palavras, bem como em exemplos e ações concretas, onde o “porquê” das coisas é explicado, para que a criança aprenda e aceite as regras.

A importância em estabelecer regras e impor limites vai refletir-se na futura boa educação do adolescente. É preciso estabelecer regras claras desde cedo para evitar problemas de comportamento futuros e ajudar assim a criança a desenvolver o respeito pelo outro e até mesmo a gerir frustrações, o que é fundamental para um crescimento psicológico saudável ao longo da vida.
No caso de uma birra é importante que os pais se mantenham firmes, para que a criança entenda que fazer birra não resolve e para que possa aprender a usar estratégias criativas para obter o que deseja.

Os pais devem gerir e superar as situações críticas. Quando o filho responde com um “não”, estes podem negociar de uma maneira positiva sugerindo trocas com coisas que a criança goste.
Por outro lado, não se pode esquecer que a criança entre 2 e 5 anos está a se desenvolver e entender como funciona o mundo social, mas não consegue se controlar emocionalmente. É imprescindível que os pais não sejam excessivamente severos e tenham muita paciência.


A discordância dos pais é problemática. Ambos devem chegar a um acordo antes de impor uma regra, para que não fiquem dúvidas na mente infantil ou até mesmo para que a criança não explore a contradição dos pais. O processo educacional é comparável a um barco, onde é muito importante que os pais remem na mesma direção.

A autoridade não pode, em hipótese alguma, ser exercida mediante abuso de força física, nem por intermédio de quaisquer abusos.
Para impor limites podem ser necessários castigos e os pais precisam estar conscientes e saber que há limites para os castigos. O limite é necessário, mas a agressividade não é.

Educar é um “ato de amor”.

Dr.ª Mariagrazia Marini Luwisch
Psicóloga Clínica - Psicoterapeuta

 

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