Ciúme
Definição
Sentimento
doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de posse
da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade, fazem
nascer em alguém.
Emulação, competição, rivalidade.
Despeito invejoso; inveja.
Receio de perder alguma coisa; cuidado, zelo.
Em
alemão, a palavra Eifersucht (ciúme), indica uma relação
como o fogo, como o queimar.
O
que é o ciúme?
O
ciúme não é uma única emoção
simples, mas combinações múltiplas de várias
emoções que podem aparecer em conjunto ou agrupadas e
que são a inveja, seguida de raiva, ódio, pena, auto comiseração,
vingança, tristeza, mortificação, culpa, vaidade,
inferioridade, orgulho, medo, e ansiedade. Todo ser humano sofre de
ciúmes ou é alvo ou instrumento do ciúme de outros
seres humanos e como a sua manifestação é universal,
os autores concordam em aceitar que seja normal na evolução
do ser humano. Sua manifestação está sempre muito
próxima da ansiedade e pode assumir diagnóstico grave
ao persistir durante muito tempo.
Em
questões de ciúme, a linha divisória entre imaginação,
fantasia, crença e certeza, frequentemente se torna vaga e imprecisa
e as dúvidas podem se transformar em ideias super valorizadas
ou delirantes. Na tentativa de aliviar esse sentimento a pessoa é
levada à verificação compulsória de suas
dúvidas, chegando a atitudes absurdas e ridículas que
na maioria das vezes não ameniza o mal estar da dúvida.
É
normal sentir ciúme?
Sim,
sentir ciúme é normal. Tão normal quanto sentir
saudades. Assim como a saudade, o ciúme é um sentimento
normal quando surge como resposta a uma situação real,
imediata, com sua duração limitada a um tempo que nem
sempre é definido, porém certamente limitado.
Quando
o ciúme começa a se prolongar no tempo e aumentar de intensidade,
alguma coisa deve estar acontecendo. A saudade, por exemplo, quando
intensa e prolongada, pode gerar uma situação mais séria
de depressão. O ciúme também, só que actua
mais na esfera da angústia e da ansiedade, gerando, portanto,
estados ansiosos mais persistentes.
Geralmente
o ciúme ocorre como consequência de uma desconfiança,
como o que acontece após uma traição.
Parece
que o ciúme sexual coloca subitamente em causa o sentido de identidade
de quem o sofre. Ser traídos fisicamente pelo companheiro assume
significados mais profundos pois activa os sintomas de insegurança,
abandono e raiva. Estas emoções são mais evidentes
quanto mais baixa for a auto-estima: quem foi traído chega a
duvidar de si como pessoa e a pensar que não vale nada. O facto
de que uma outra pessoa seja preferida em nosso lugar, nos faz pensar
que falta algo em nós e nos impede de demonstrar a raiva e a cólera
natural.
O
ciúme que o Homem sente, que raramente confessa e que tenta dissimular
ou expressar com mau humor, não é muito agradável.
Se o homem percebe que a companheira se interessa por outro homem, fica
inseguro, pois teme ser encarado por ela como diminuído. A reacção
tem carácter de fragilidade, traço que o homem evita conhecer
por temer que o desabone.
A
mulher, entretanto, se enche de vaidade quando percebe que o companheiro
morre de ciúme dela. Tem a expectativa de merecer essa reacção,
espécie de atestado de que é importante e de que ele realmente
a ama de facto. Já enciumar-se de seu homem é o mesmo
que tornar público o quanto o amor dela é valioso ou verdadeiro.
Ela na crise de ciúme tenta afastar a concorrente, vista como
perigosa. Acredita que é a mulher que se insinuará ao
homem, seduzindo-o e não acusa seu companheiro, mas perdoa-o
por sua ingenuidade e joga sua hostilidade sobre a caçadora.
Um
bom exemplo na mitologia Grega é Hera, esposa legítima
de Zeus, que vigiava o comportamento do marido nas inúmeras incursões
amorosas dele. Hera, a primeira dama do Olimpo não ousava tocar
no marido em represália às escapadas. Preferia perseguir
e punir as amantes, a quem atribuía total responsabilidade pelas
aventuras do companheiro.
O
homem age de modo diferente, vendo nos rivais a presença de uma
masculinidade mais forte do que a própria, morde-se de ciúme,
porém culpa a companheira por eventuais aproximações.
A fantasia é de que ela não é confiável
e se insinuará para o oponente por meio de implacável
sedução. É como se ambos assumissem que, no jogo
amoroso, cabe à mulher a posição activa, e ao homem
a passiva. Nesse sentido ela se torna perigosa, ardilosa e indigna de
confiança, enquanto ele se mostra tolo, esvaziado de vontade,
ingénuo, despreparado, mera vítima da sedução
feminina.
Resumindo:
o sentimento dele relativiza o suposto poder, o dela ressalta a potência.
A
evolução dos papéis do casal produziu nos últimos
anos mudanças notáveis, mas a insegurança e os
sentimentos como o ciúme permanecem como antigamente, porque
o casal evoluiu em termos sexuais mas não em termos sentimentais
e portanto as reacções são as mesmas de há
mil anos atrás.
O
ciúmes também poderia ser considerado afrodisíaco,
já que segundo pesquisas serve para que as mulheres tenham mais
filhos, cuidem mais da sua prole e para que os homens "inconscientemente"
produzam mais espermatozóides.
Quem considera o ciúme um facto instintivo tende a justificá-lo
e evidencia seus aspectos securizantes para o casal, enquanto quem
o vê como produto da cultura o recusa pois o considera um atraso.
Psicologia
do ciúme
O
ciúme encontra suas raízes na relação primária
entre mãe e o bebé e eventualmente na relação
com irmãos. O estado de dependência que caracteriza esse
estágio evolutivo e a impossibilidade da parte do bebé
de assegurar a presença constante do "objecto de amor",
ou seja, a mãe, produz uma verdadeira ansiedade de abandono e
perda.
Uma
incapacidade de amar baseada na ambivalência profunda aparece
nas pessoas cujas relações objectais são governadas
pelo ciúme.
O
ciúme pode ser ocasional ou onipresente nas pessoas que não
conseguem desenvolver amor autêntico, por confundirem todas as
relações com uma necessidade narcísica.
O
ciúme não é uma simples reacção dolorosa
a uma frustração, mas na realidade apresenta a característica
oposta: inclinação a importunar e a se tornar obsessivo,
o que mostra que a adesão às ideias inconscientes de ciúme
serve à repressão.
O
carácter obsessivo do ciúme deve-se, em primeiro lugar,
ao fato de que a situação actual, que despertou o ciúme,
recorda à pessoa uma situação semelhante anterior
no passado, que terá sido reprimida e o fato de uma humilhação
actual existir em primeiro plano, ajuda a manter no inconsciente a humilhação
passada.
A
base de todo o ciúme é a frustração inerente
ao complexo de Édipo.
Freud indicou uma explicação pela ideia que teve do ciúme
paranóico:
"Na paranóia, o ciúme serve à rejeição,
por projecção, de dois tipos de impulsos:
impulsos à infidelidade x impulsos ao homossexualismo
Certamente ambos os impulsos desempenham um papel no ciúme normal
que pode desenvolver-se sempre que há uma necessidade de reprimir
impulsos à infidelidade e/ou ao homossexualismo e coincide com
a característica de intolerância à perda de amor.
Frequentemente
representado por um medo neurótico dos vínculos é,
contudo, uma vinculação neurótica, um medo de qualquer
mudança de objecto.
Pacientes
que reagem a decepções amorosas com depressões
severas são sempre pessoas para as quais a experiência
do amor terá significado tanto gratificação sexual
quanto gratificação narcísica; junto com o amor,
perdem a própria existência. Têm medo desta perda
e, em geral, são muito ciumentas. É de se notar que a
intensidade do ciúme não corresponde em absoluto à
intensidade do amor. Aqueles que são mais ciumentos não
conseguem amar, mas precisam do sentimento de que são amados.
Percam o que perderem, tentam sempre encontrar substituto do parceiro
perdido; o desejo de achar outro parceiro é projectado e o paciente
crê que o parceiro é que está procurando novo objecto.
O
Dilema do ciúme
A
principal pergunta em relação ao ciúme, é
sem dúvida nenhuma até que ponto está na fronteira
da normalidade de um relacionamento ou se tornou algo obsessivo e patológico.
A resposta é simples, depende da quantidade de raiva ou ódio
que alguém acumula toda vez que sente ciúme por determinada
pessoa.
Essa
raiva é um mecanismo defensivo que visa depreciar a relação,
antecipando uma provável perda, no intuito de se esquecer o mais
rapidamente possível do antigo objecto de amor, apontando seus
defeitos ou imperfeições. Nesse sentido podemos falar
da convergência do amor e ódio num mesmo relacionamento,
sendo que no ciúme o predomínio do segundo é extremamente
significativo.
Uma
das características mais perigosas do ciúme é o
sentido de ampliação do mesmo ou seja primeiramente o
ciúme se restringe à esfera afectiva ou um possível
temor à traição, para em seguida se alastrar a
outras áreas da personalidade humana. A pessoa que sente demasiado
ciúme começa por também se incomodar com outras
partes do desenvolvimento de seu parceiro, principalmente no tocante
as potencialidades e criatividade do mesmo.
Começa
a desejar secretamente a derrocada profissional do parceiro, com o intuito
de que este se torne cada vez mais dependente. Nesse ponto o ciúme
se une rigorosamente a outra emoção humana extremamente
complicada, a inveja e a relação se torna uma tortura
infindável, onde o único caminho para a sobrevivência
daquele que sente ciúme é a aniquilação
das capacidades de seu companheiro. Essa inveja é quase sempre
o alerta do esgotamento do relacionamento.
As
teorias psicológicas sempre sustentaram que o ciúme é
um tipo de projecção, ou seja, a pessoa acusa um outro
de desejar o que ela própria gostaria, porém sempre nega
tal fato, seja por culpa, vergonha ou orgulho. É impressionante,
entretanto, como o ciúme vai aumentando quanto mais a pessoa
nega o descrito anteriormente, pois se vale cada vez mais de sistemas
defensivos para que seu companheiro não perceba que é
ele que está sedento para buscar outra relação,
e assim sendo é mais fácil sentir primeiro o ciúme
a fim de atestar sua completa inocência.
A
questão do ciúme remete ao medo da perda e em última
instância ao medo da morte. Esses sentimentos sempre estão
mais presentes em pessoas marcadas por experiências de abandono
ou desamparo, sendo que qualquer relação pode disparar
esses conteúdos e que o medo é o mais forte, impedindo
o livre fluir de outras emoções ou vivências.
Ao
invés do ciúme, deveríamos buscar provas de amor
em áreas como: dedicação, apoio humano, diálogo
e desejo de renovação, companheirismo e omnipresença.
Para que uma relação tenha êxito, temos de estar
atentos não apenas aos perigos da mesma, mas também aos
sentimentos humanos destrutivos, que ao contrário de aprofundarem,
corroem a relação.
Conclusão
O
ciúme surge em relações amorosas devido a factores
como: comparação, competição e medo da substituição
Se nos tornamos mais autónomos e auto-criativos, esses factores
de relacionamento tornam-se menos significativos e a paixão do
ciúme menos provável.
Entretanto,
entre relacionamentos possessivos normais o ciúme é normal:
se formos substituídos, suplantados, trocados por um modelo melhor,
naturalmente sentimos um forte sentimento de perda, angústia,
pena e traição, podendo se tornar uma das mais poderosas
obsessões da vida humana, mas se podemos aprender a sentir ciúme
podemos também desaprender a sua resposta.
E
se formos amados por sermos uma pessoa única, a comparação
com rivais diminui e quando não estamos em competição
com outras pessoas, ficamos menos vulneráveis ao ciúme.
Ao tornarmos insubstituíveis na relação, o ciúme
desaparece.
Concluindo,
a maneira básica de prevenir o ciúme é transformando-nos
numa pessoa única e irrepreensível. E sendo autênticos
será a melhor maneira de transcender a ameaça de ser substituído
por rivais em potencial.
"COMO CIUMENTO SOFRO QUATRO VEZES:
PORQUE SOU CIUMENTO,
PORQUE ME REPROVO DE SÊ-LO,
PORQUE TEMO QUE MEU CIÚME MACHUQUE O OUTRO,
PORQUE ME DEIXO DOMINAR POR UMA BANALIDADE:
SOFRO POR SER EXCLUÍDO
POR SER AGRESSIVO,
POR SER LOUCO E PRINCIPALMENTE POR SER COMUM. "
ROLAND BARTHES